sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Humanos se 'coisificando' e humanizando coisas...

Ontem, como de praxe às quintas-feiras, meu dia terminou às 23h30min. Horário no qual costumeiramente chego a minha casa, após uma jornada de três turnos... A primeira coisa que fiz foi atender minha filha Isadora, que já me aguardava à porta. Tomamos um banho e a coloquei para dormir... Então, fui comer alguma coisa, tomar um chimarrão, conversar com meu marido e Gustavo (meu enteado de dez anos).  A televisão estava ligada, mas ninguém prestava muita atenção a ela, até começar o Hipertensão... Gustavo saiu correndo para ver, chamando a atenção de todos para que olhássemos o programa, fitei a televisão por alguns minutos, enquanto tomava um chimarrão, lia um livro e via meu e-mails.
Então, aquele programa me distraiu... Fiquei pensando até que ponto o ‘ser humano’ é capaz de ir pelo dinheiro?! Pensei, isso só pode ser o auge do Capitalismo, não há outra explicação! Foi o tempo de refletir a respeito e mandei o Gustavo para cama... Como pode o ser humano, ‘homo sapiens sapiens’, ser racional que sabe e sabe, se permitir esse tipo de violência? No meu ver, é violência sim, as pessoas se violentam, se submetem a coisas que detestam, tem medo ou nojo, TUDO em troca do dinheiro.
Sem falar que ‘perdem’ totalmente a autonomia, viram marionetes nas mãos dos produtores do programa, da Rede Globo... E, tudo isso sob a alegação que estão se constituindo pessoas mais fortes, aprendendo a lidar com seus medos e frustrações, se tornando seres humanos mais fortes... Por favor! Tão fortes que se submetem e são capazes de TUDO por dinheiro? Isso é ser forte?! Eu diria que esse é o mais absoluto exemplo da miséria humana, o que vale é o TER e não o SER, sim porque muitos dos que estão lá deixam de ser e só pensam em ter, doa a quem doer...
Penso que forte é uma mãe que tem um filho doente e enfrenta filas enormes nesse país para conseguir atendimento no SUS para seu filho. Forte são os inúmeros brasileiros e brasileiras que vivem -  melhor dizendo - sobrevivem abaixo da linha da pobreza, enquanto políticos corruptos desviam milhões que com sacrifício tiramos, muitas vezes da mesa da nossa família, da saúde ou da educação dos nossos filhos, para cumprir com nosso dever de cidadão: pagar impostos.
Fortes são os professores e professoras que ganham uma miséria para “salvar o país”. É, “salvar o país”, pois se não todos, mas a maioria dos políticos que hoje estão no poder, têm em seu discurso que somente a Educação é capaz de “salvar o país”, mas enquanto estes ganham horrores para “acabar com o país” – explico: digo acabar com o país, pois na sua maioria nada fazem em prol da sociedade, a não ser onerar ainda mais o bolso do contribuinte, o que acaba por gerar juros absurdos e aumentar o endividamento da sociedade –, os professores e professoras vivem uma batalha diária por salários dignos.
Enquanto isso tudo acontece em nosso país, tem gente que ainda faz apologia ao assistencialismo que impera no Brasil. Gente paga com o nosso dinheiro que pensa estar fazendo um favor ao atender a população. Um país no qual os direitos da sociedade não são respeitados, no qual são necessárias políticas afirmativas (não que eu seja contra essas políticas, mas o melhor seria não precisar delas, se vivêssemos num país justo e igualitário). País em que os políticos se vangloriam de serem éticos, honestos e combaterem a corrupção, enquanto isso tudo não passa da sua obrigação. E, enquanto isso... a população está participando de alguma forma “fácil” e sem nenhuma dignidade de ganhar dinheiro, seja Big Brother, Fazenda, Hipertensão e etc. promovida pela mídia na tentativa de mantê-la ocupada e distraída, sem tempo para refletir.
Bem, não sei se feliz ou infelizmente em mim esse tipo de programação causa o efeito contrário. Outras vezes já citei a dialética de Marx, para explicar o momento que vivemos, mas não consigo ver de outra forma, a saber: humanos se coisificando e humanizando coisas!

sábado, 24 de setembro de 2011

Educação ambiental?


Algumas coisas me intrigam e também me incomodam bastante. Explicarei... Estive nesta semana no II Congresso Internacional de Educação Ambiental, promovido pela UFSM, no Polo em que trabalho, na cidade de Panambi. Ouvi relatos de trabalhos e pesquisas excelentes sobre educação ambiental e como coloca-la em prática.
Entre tantos trabalhos e pesquisas interessantes, ouvi o relato de uma professora da Rede Municipal de ensino de Ijuí, cujo trabalho de pesquisa abordou o descarte de óleo comestível numa das nossas escolas municipais (vejam bem, numa única escola). De acordo com ela, a Rede Municipal tem peixe inserido no cardápio da merenda escolar, e ao ver inúmeras vezes ser feito o descarte do óleo utilizado na fritura do peixe para a merenda, ir pelo ralo, ficou bastante preocupada, elegendo este tema para sua pesquisa de Pós-graduação em Educação Ambiental.
Bom, essa foi a primeira coisa que me intrigou e me incomodou. Uma instituição de ensino, pública, é sempre bom salientar, municipal, que também é bom salientar, descartando óleo no ralo da pia?! Por isso, também, destaquei que era uma única escola, pois me ocorreu uma dúvida, qual o destino dado ao óleo comestível utilizado nas outras escolas da Rede Municipal??
Essa professora fez questionários de pesquisa, na tentativa de verificar “qual o tamanho do estrago” para o meio ambiente. A ideia era entrevistar todos os colaboradores das escolas da rede municipal, na tentativa de verificar quantos destes colaboradores descartam o óleo comestível utilizado nas suas residências no meio ambiente, como quantas escolas da Rede Municipal descartam e contaminam o meio ambiente.
No entanto, a ideia, que a meu ver é excelente, não queria apenas verificar o problema, mas também tentar soluciona-lo ou ameniza-lo, assim a proposta era trazer uma palestrante da Secretaria de Meio Ambiente na tentativa de conscientizar as pessoas dos danos que estão causando ao meio ambiente, e também, realizar uma oficina de confecção de sabão com o óleo comestível utilizado.
Como se sabe, para realizar uma pesquisa dessas na Rede Municipal de Ensino, é necessário a autorização da Secretaria Municipal de Educação, que NÃO AUTORIZOU (isso me indigna muito mais!) sob a alegação que o sabão é confeccionado com soda e era perigoso para a saúde das pessoas. Somente foi autorizada a pesquisa na escola que a professora trabalha, então questionei se nas outras escolas da Rede Municipal ela não realizou somente a coleta dos dados, sem a oficina de confecção de sabão, mas não, isso também não foi permitido pela Secretaria Municipal de Educação, segundo o relato da professora/pesquisadora.
Bem, como eu disse, coisas me intrigam e me incomodam... O que me intriga é se realmente houve essa proibição (ou não autorização, como queiram) por parte da Secretaria e, se sim, o que me intriga mais ainda é quais seriam os motivos? Porque uma coisa é não saber do problema, não saber ou não se preocupar com o descarte do óleo no meio ambiente, e outra (bem diferente e muito mais grave, eu penso) é saber e não querer falar sobre e muito menos soluciona-lo.
O que me intriga ainda mais, sem nenhuma redundância, é que temos uma Secretaria de Meio Ambiente, coleta seletiva para o lixo (se funciona, é outra questão, falo das iniciativas), ecoponto para descarte de pneus velhos e coleta de vidros, pilhas e etc. (antigos papa-vidros, papa-pilhas...) e recentemente uma grande campanha para arrecadação de lixo eletrônico, o que demonstra ou deveria demonstrar, uma certa preocupação com as questões ambientais por parte do Poder Público Municipal. Então, onde está o problema? Parece-me que alguma coisa não está em harmonia.
Penso que para se efetivar a Educação Ambiental é necessário conscientização, e muito mais do que discurso, é necessária a prática, dar o exemplo... Quando se fala de uma instituição de ensino então... Quanto à pesquisa e a qualificação, entendo que a Secretaria de Educação deveria apoiar e incentivar e, jamais, não permitir.
Sinceramente, me senti envergonhada, porque por mais que eu separe o meu lixo, faça o descarte adequado do óleo utilizado na minha casa, morar num município em que ainda acontece esse tipo de coisa, é complicado, é constrangedor, ver o público criticar (com razão) primeiramente a forma que se dava o descarte do óleo nessa escola e, mais ainda, a atitude da Secretaria Municipal de Educação foi ainda mais constrangedor.
Quero crer que tudo não passou de um mal entendido de quem leu a solicitação da professora/pesquisadora e que em breve, adotando o exemplo dessa escola em que trabalha a professora, será dado um destino adequado ao óleo utilizado, e instalado um ‘papa-óleo’ em cada escola da Rede Municipal de Ensino (assim como foi adotado na escola pesquisada).
Para concluir, é do conhecimento de todos, ou pelo menos deveria ser, que a educação ambiental tem que ser trabalhada na Educação Básica, minha dúvida é que tipo de educação ambiental tem os alunos que estudam nessas escolas em que o óleo comestível utilizado é descartado no ralo da pia...?

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

20 de setembro...

Sou gaúcha, natural de Pelotas, com muito orgulho! Há inúmeras coisas que aprecio em nossa cultura, mas não consigo apreciar esse tal 20 de setembro... Não consigo compreender como se comemora uma ‘guerra’ que se perdeu. Hoje um amigo me disse: não importa a vitória, mas sim as conquistas que a Revolução Farroupilha nos trouxe... É mesmo?! Quais?? Alguém poderia me dizer, por gentileza?
Uma ‘guerra’ que teve como lema: “liberdade, igualdade e humanidade” e foi financiada pela venda e/ou aluguel de escravos negros para outros países, que prometeu liberdade para os escravos que nela lutassem e, culminou na Traição de Porongos, desarmando os lanceiros negros e os exterminando, sem falar nos heróis, que eram senhores de escravos.
Sinceramente, não vejo o que comemorar nesse 20 de setembro. Ainda temos o nosso hino, que particularmente, acho lindíssimo, mas que tem na sua letra: “sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra...” e me pergunto: quais façanhas?! Espero que não sejam essas de exploração, de forjar e perpetuar conquistas que nunca existiram, de colocar os escravos a defender os interesses da elite gaúcha, numa luta que nada tinha a ver com o seu lema, sem falar nos negros infantes que no episódio da ‘Traição de Porongos’ foram dizimados.
Concordo com o Juremir Machado da Silva, que diz “a revolução farroupilha se consolida como o triunfo anual da ignorância estimulada pela mídia. Puro marketing”.  Creio que aqueles que ainda comemoram o 20 de setembro, é porque desconhecem a história e acreditam no marketing da mídia capitalista, cujo único objetivo é lucrar, lucrar e lucrar!
Talvez seja necessário refletir sobre essa comemoração para descobrir do que realmente nos orgulhamos e do que nos horrorizamos.